segunda-feira, 2 de maio de 2011

(Fragmentos) de Martha Medeiros - Fora de mim



''Medo de nunca mais viver o que vivi, sentir o que senti. Medo de não conseguir aguentar viver sem você e o medo maior de todos, que é o de enlouquecer, porque o que me resta de sanidade me avisa: estou pirando, eu sei (...) já sofri outras vezes, mas sofria com mais discernimento, sem essa vertigem que faz parecer que a queda não tem fim e que não vou acordar tão cedo.''


''Vai passar? ...Já passou, meu problema é o que ficou.''

''Mas uma hora a repetição cansa, o entusiasmo acaba, há textos novos para encenar e um mundo lá fora chamando.''


''Hoje me pergunto se você me amou de verdade(...) Mas não descarto a hipótese de você ter apenas projetado um amor em mim para vencer sua carência existencial.''


''O que eu sentia por você era irracional e intenso de uma forma que, como ficou comprovado, assim que você se foi, me implodiria.''


''Uma dor que carregamos para as mesas de bar, e que vem junto também para a nossa cama, para o escuro do quarto, onde permitimos que ela transborde sem domínio e sem verbo.''


''Foi uma noite em que você quase pediu, me deixe. Ora, pra que me enganar: Você realmente pediu, sem pronunciar palavras, você vinha me pedindo, me deixe, olhe o jeito que te trato, repare em como não te quero mais, me deixe (...) Naquela noite que podia ter sido amena, me vi desistindo de nós dois em menos de dez minutos, a decisão mais rápida da minha vida.''


''E voltei a dizer: não, acabou de verdade. Reparei em minha voz tremida. Pela primeira vez naquele domingo, eu fraquejei.''


''Eu acordo de manhã depois de ter dormido apenas três horas, tomo banho, coloco uma roupa (...) Sem ninguém desconfiar de que sou um fantasma (...) que estou apenas levando meu zumbi para passear, pegar um ar e cumprir certas obrigações.''


''Me conta onde fica esse esconderijo secreto, o mesmo onde você sumiu com todos os eu te amo que me disse.'' 

''Faço o que com o aparelho antigo, com o aparelho que registrou todas os nossos telefonemas intermináveis, dou o mesmo fim que dei à sua escova de dente?'' 

 ''Ou talvez eu tenha preferido fazer de conta que tudo em você era autêntico e que a insana era eu.'' 

''A saudade é uma presença.''

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