Não vou te falar dessa agonia quando penso em você, aí, longe de mim, longe de sentir a minha falta e me chamar de volta pra perto. Nem de como eu me pergunto se você comeu direito ou se insiste no café purinho. Se está bebendo água, coisa que você não gosta e tinha-que-ser-na-marra. Não, não agora. Porque seria uma fraqueza daquelas – entre tantas outras coisas - que você detesta em mim. Prefiro ir indo com os dias, levando as suas impressões, vivendo as lembranças: sim, vou vivê-las até esgotá-las, até você desbotar dos meus sonhos, se confundir com as outras cores na minha cabeça e ser apenas mais uma cor.
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Provavelmente não terei espaço nas suas lembranças, quase sempre ocupadas pelos que chegam, você não vai ter tempo para relembrar o que fomos, vai usar os espaços justificando para si mesma que-não-dava-mais, que eu era o oposto de tudo que você esperava, que-o-encanto-acabou, que eu não acrescentava nada mais que um dia onde você precisava levantar e cumprir obrigações e que dentre-elas-estava-eu.
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Mais alguns minutos e tudo explode novamente. Sabe esse conformismo que tenho demonstrado aqui, espera pra ver, pouco mais de 40 minutos e ele vira do avesso porque-será-dia-trinta. E na verdade tem sido assim, de repente, bate uma força e eu penso que não vou sentir a sua falta nunca, aí percebo que estou pensando na falta e vem aquele choro sentido, meio gelado que a gente nem sente que tá chorando a não ser pelo frio no rosto, aí eu tomo um banho, pego um livro e vou ao café de sempre. Vejo gente indo e vindo, a cidade mais cinza do que nunca, tento me concentrar, mas acabo com o olhar vago, longe das páginas, lembrando daquele dia que você disse que me acompanhava, me acompanhava como novela e de como depois daquele dia tudo mudou porque num certo dia de junho eu me vi dentro de um avião pra ir ao teu encontro. Eu vi o teu perfume me buscando pela mão na porta daquele hotel, eu vi a gente subindo até o 201, me vi roubando um beijo. Vi uma noite fluindo como, nem nos meus sonhos, eu imaginava. Vi você pegando na minha mão enquanto dirigia, vestindo a minha camisa pra dormir. Vi as pontas dos meus dedos desenhando a ponta do seu nariz, vi um filme no começo. Mas, era novela. E acabou.
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Ao som de ‘’The Weight Of My Words’’ - Kings Of Convenience -
‘Você não sente mais o peso de minhas palavras. Você não pode sentir mais.’
Que desfecho perfeito. Perfeito nas palavras, porém trágico, trágico em ações...
ResponderExcluirMemórias, agora são memórias e alguns retratos em branco e preto. Agora é saudade.
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