terça-feira, 9 de agosto de 2011

Que nem as folhas secas vão embora, eu trabalhei

Então, você que chegou com aquele jeito meio magoado, ferido, abandonado; tão reduzido, sem fé bem naquela noite em que eu estava tão forte, tão cheia de certezas. Você, bebendo aquele vinho, tão só, do outro lado da linha; com uma voz rouca, um estranho me despertando sensações.
 Foi entrando pela minha orelha fria a cada dia um pouco mais.  As certezas viraram dúvidas.  Mas, eu não estava preocupada. Claro que eu não iria me apaixonar, até recordo em uma de nossas primeiras conversas, que você falou, entre uma frase solta e outra, algo do tipo 'não se apaixone por mim', fingi que não ouvi e sorri meio de lado. Os dias foram passando e  as ligações viraram vício, as trocas de mensagens, entre elas, aquela que questionava 'o que nós éramos' alí, os cuidados mínimos, tão delicados, sinceros. Até que, 4 meses depois, o pedido engasgado, ouvi do outro lado da linha, um tímido e quase sem voz 'quer namorar comigo?'. Respondi, sem precisar pensar, que sim. E posso sentir, outra vez, a mesma vontade de te beijar que senti naquele momento. Fui sonhando, colorindo os devaneios que, para mim, eram planos. E eram nossos. Mas, agora, são só meus.
O apartamento com porta-retratos das nossas viagens (secretas ou não), os álbuns  com todas as fotos das coisas interessantes captadas pelo caminho, cada uma com seu significado, que só nós saberíamos. As lembranças dos cafés e restaurantes aconchegantes, o deslize de pegar na sua mão quando ninguém mais estivesse olhando. Os ciúmes quando, na minha frente, alguém pedisse  o teu telefone. Os filmes, a briga pelo controle da tv (confesso que, no meu caso para desligar a tv), a água na cabeceira da cama, os livros na mesma estante. Ainda que a vida fosse outra, o meu lugar seria o nosso lugar, sempre.

Sem esquecer o agora,  de como estava sendo difícil, às vezes, mas o quanto eu queria continuar, porque, afinal, desde o início, de certa forma sabíamos que não seria fácil. Eu tenho as minhas limitações e sempre respeitei as suas. Os seus limites. Confesso que inúmeras vezes me magoei com algumas das tuas atitudes, tua visão realista demais, que fincava os teus pés no chão. Claro que é preciso ser racional, na medida. Mas, não se pode esquecer das asas, não se pode esquecer que lá de cima as coisas são mais bonitas, o azul do céu se confunde com o oceano e, a gente enche o peito de amor. Então, por que não se permitir? Ah, e as minhas asas andam tão curtas, encolhidas, de ter que parar pra te acompanhar. Você vive parando, me deixa em qualquer lugar, no meio do caminho, quando algo dá errado. Me pergunto se te dei pouco, e de nada adianta saber, se no fim das contas era tudo que eu tinha. Mas, não dizem que é o no futuro onde tudo se justifica?
Pois te digo, meus sonhos são objetivos.  Talvez a ordem agora seja reformular, moldar ou reconstruir. Eu ainda não sei direito o que fazer, confesso.  E digo pra você que mora aqui do lado de dentro, não você aí, do lado de fora. Digo que fique quanto tempo quiser. Entendi que não adianta te expulsar aqui de dentro, esqueci que esse lugar é onde você mora.

Então me retiro, eu, para não me deixar empoeirar pelo teu descaso. 

Dos nossos encontros, a certeza de que a vida é bonita e que o antes era apenas um ensaio para todos aqueles momentos onde tudo parecia possível.

Que tenha sido único.


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